Especialista defende criação de política nacional permanente para tratar o endividamento rural e evitar soluções improvisadas que se repetem a cada crise no campo.
Endividamento rural exige plano permanente e não medidas emergenciais, alerta especialista
Agronegócio
O endividamento rural no Brasil é um problema recorrente e não um fato isolado, afirma o advogado e presidente do Sindicato das Sociedades de Fomento Comercial do Rio Grande do Sul (Sinfac-RS), Márcio Aguilar. Segundo ele, a cada nova estiagem, enchente ou instabilidade de mercado, surgem apenas soluções emergenciais — como leis provisórias e renegociações pontuais — que não atacam a raiz da questão.
Nos últimos anos, programas como o PL 550/2022 e o Desenrola Rural trouxeram algum alívio para os produtores, mas também revelaram a falta de uma política nacional permanente para enfrentar o problema do crédito agrícola.
Direito garantido, mas insuficiente
A jurisprudência até oferece respaldo aos produtores. A Súmula 298 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) assegura o direito de renegociar dívidas rurais. Porém, Aguilar alerta que isso não substitui o papel do Estado em criar um sistema estruturado de proteção ao crédito rural. “Não pode depender da boa vontade dos bancos ou da pressão momentânea sobre o Congresso”, afirma.
O especialista defende políticas públicas claras e contínuas, com mecanismos de securitização a longo prazo que levem em conta as diferenças regionais e a diversidade da atividade agrícola.
Impacto no Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul é exemplo da gravidade do problema. Nas três últimas safras, perdas significativas reduziram a renda dos agricultores e impactaram toda a cadeia produtiva do agronegócio no estado.
Para Aguilar, o modelo atual de respostas improvisadas é insuficiente. “Tratar o endividamento rural com improviso é apagar incêndios com baldes”, compara.
Crédito como política de Estado
A proposta do especialista é que o crédito agrícola seja tratado como política de Estado, com planejamento estruturado, previsível e permanente. Isso garantiria segurança tanto para o custeio da produção em tempos normais quanto para situações de crise climática, financeira ou de mercado.
“O Brasil precisa de um plano que fortaleça a resiliência do agronegócio, oferecendo ferramentas sólidas para que o produtor não dependa de medidas emergenciais a cada nova dificuldade”, conclui Aguilar.
Fonte: Portal do Agronegócio
Agronegócio
Ampliação da Unidade da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em Rondonópolis – Um novo capítulo para o grão e o produtor
Na reta final de outubro de 2025, a Conab oficializou a entrega das obras de modernização de sua “Unidade Armazenadora de Rondonópolis” em Mato Grosso, com vista à ampliação da capacidade de armazenamento. Entre as intervenções citadas estão: instalação de painéis de energia fotovoltaica, recuperação da linha de recepção e das instalações de processamento de grãos, entre outras melhorias. Segundo o anúncio oficial, com essas obras a unidade recupera “capacidade estática total em 55,2 mil toneladas”.
A presença de Edgar Pretto, presidente da Conab, foi confirmada no evento de inauguração. Embora os anúncios não detalhem extensamente sua fala, em entrevistas e redes sociais ele já vem destacando que desde 2023 houve um movimento para “aumentar em 42% a nossa capacidade de armazenagem”. A escolha de Rondonópolis não é por acaso: o município está estrategicamente localizado em região de forte expansão agrícola – em especial produção de grãos — o que contribui para reduzir custos logísticos e possibilitar uma melhor articulação entre armazenagem, escoamento e comercialização.
Na prática, o produtor da região — e da cadeia que depende de milho como insumo, como avicultura, suinocultura, pecuária de corte — passa a contar com uma estrutura da Conab que promete maior fluidez no recebimento, estocagem e distribuição do grão.
O que isso representa para o mercado de milho
Em paralelo à inauguração, a Conab retoma e enfatiza programas que visam facilitar o acesso ao milho pelo produtor e criador rural. Um deles é o Programa de Venda em Balcão (ProVB), que “permite a venda direta dos estoques de milho em grãos ao criador rural de pequeno porte, por meio de vendas diretas, a preços compatíveis com os praticados nos mercados atacadistas locais.”
Além disso, em julho de 2025, a Conab anunciou a compra de 50 mil toneladas de milho em grãos para recompor estoques públicos destinados ao ProVB — recebendo parte desse volume na unidade de Rondonópolis (aproximadamente 3 mil toneladas). Isso demonstra que não se trata apenas de ampliar armazenamento para fins especulativos ou exportadores, mas de integrar a logística com uma política de abastecimento interno e apoio aos pequenos criadores.
Para o produtor rural que cultiva milho ou que dele depende como insumo, esses fatos trazem alguns impactos potenciais:
Redução de custo logístico: Com armazenamento mais próximo e em volume adequado pode haver diminuição de frete ou tempo de espera para escoamento.
Melhor acesso ao mercado institucional: A Conab, ao fazer oferta de compra ou disponibilização de volume para o ProVB, amplia alternativas em relação ao mercado comercial tradicional.
Estímulo à estabilidade de preços: Em contextos de colheita ou safra abundante, o escoamento e estocagem são críticos para evitar quedas bruscas de preços ou entulhos logísticos. A própria Conab reconheceu que preços de milho caíram em diversas praças e que isso reforça a necessidade de seu papel no abastecimento.
Política de apoio ao pequeno produtor: O ProVB exige que o beneficiário seja pequeno criador (avicultores, suinocultores, bovinocultores etc) e atenda a critérios do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Contextualização regional e desafios à frente
A modernização da unidade de Rondonópolis vem num momento em que o Cerrado e o Centro-Oeste estão protagonizando a produção de grãos no Brasil — mas também enfrentando barreiras estruturais: infraestrutura, estradas, armazenagem, transporte ferroviário, e variações climáticas. Ao fortalecer a rede de estoques da Conab, busca-se uma resposta dessas demandas.
Contudo, alguns desafios persistem:
A ampliação física da capacidade de armazenagem precisa ser acompanhada de eficiência operacional, tecnologia de silagem apropriada, controle de qualidade, e integração com transporte (rodoviário ou ferroviário) para realmente reduzir custos.
Para o programa de venda direta ao produtor ou criador (ProVB), há necessidade de que o produtor esteja cadastrado, atenda aos critérios (DAP/Pronaf ou CAF-Pronaf), e que haja logística de retirada ou entrega do produto. Esses rampes muitas vezes dificultam o acesso.
No mercado de milho mais amplo, ainda existe forte interdependência com exportações, câmbio, custos de fertilizantes e defensivos (que afetam cultura do milho), além de demanda da cadeia de carnes e dos grãos. A estratégia da Conab surge como um instrumento de política pública, mas não como solução única.
O que observar daqui para frente
Para você que cobre o jornalismo agrícola com olhar técnico e humano, valem alguns pontos de atenção:
Verificar na prática quantos “criadores rurais de pequeno porte” se habilitam ao ProVB e qual o volume efetivo de milho entregue por mês ou safra.
Observar se o custo menor prometido pela Conab se traduz em economia para o produtor final (em comparação ao mercado local).
Mapear a logística de retirada/entrega: se o produtor da região de Rondonópolis ou adjacentes terá estoque mais próxima, ou se ainda precisará frete significativo.
Acompanhar se a unidade de Rondonópolis recebe mais volumes de milho ou outros grãos, e se isso influi em preços regionais.
Verificar como essas políticas se interligam com a agricultura familiar, com a pecuária local e com os pequenos criadores rurais — na linha que você costuma trabalhar, humanizando as implicações.
Conclusão
Com a nova estrutura em Rondonópolis, a Conab reforça sua atuação logística e política no Brasil-grão. A presença de Edgar Pretto sela o papel institucional que está sendo lançado: não apenas armazenar mais, mas atuar no fornecimento direto, em condições mais acessíveis, para quem produz ou depende do milho em escala menor. É uma aposta prática — se funcionar bem, pode favorecer o produtor que até agora era “pequeno” para o mercado tradicional, e precisa de alternativa de abastecimento.
Mas como todo esse tipo de política, a eficácia estará no detalhe: cadastro, acesso, transparência, logística, custo. Para o leitor do seu site, será interessante ver o “antes e depois”: Quantos criadores acessaram? Qual a economia? Se o milho está mais perto? Se o efeito se reflete no bolso de quem cria?